Não há certezas em Terapia
Há quem busque terapia como um olhar científico e racionalizado para si mesmo, ou seja, uma matemática dos afetos. E assim, conclui-se que o motivo de não termos ainda decifrado o conflito é que não encontramos a causa última numa sequência confusa de causalidade e consequência, e que a nebulosidade do processo é mais uma culpa literalizada de um ego que carrega o mundo nas costas, cujo esforço de entendimento é sempre insuficiente.
Assim, não entender implica em não resolver. E aquilo que não cabe na nossa cartilha de entendimento, não existe ou não vale nosso esforço de compreensão, aqui mais no sentido daquilo que abrange e não do que decifra.
Estamos encerrados nos fatos, para não dizer obcecados por eles. Tememos as metáforas porque ela nos faz flertar com a nossa parcela de loucura. E na nossa neurose de não sermos tomados por ela, não nos damos conta de que ela já nos tomou na própria intensidade das nossas neuroses aprisionantes. Afinal, ela é tal qual o trickster, que opera criando as mais concretas ilusões.
Buscar certezas e saídas na terapia é egoterapia, e não psicoterapia (terapia da psique). O caminho da psique não é sobre avançar e superar a qualquer custo, requer voltar, revisar, refletir, reimaginar, relembrar, reconhecer. Há uma diferença entre olhar de novo e rever. Para rever, revisamos até mesmo a lente que temos sobre o olhar.
Terapia não é sair rumo às certezas, é entrar no reino imaginal das dúvidas. Ir para frente não é a meta, mas metamorfose consequente e sem garantias.
E o antídoto da prisão é liberdade, não do ego, mas do cultivo da alma, ou seja, assumir a liberdade da psique de imaginar.
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